Breve descrição da organização para que o dinheiro foi arrecadado
O Movimento Camponês Popular (MCP) foi criado no estado de Goiás, no ano de 2008. Naquela época, um intenso debate atravessava o conjunto dos movimentos populares do campo. Discussão essa que girava em torno da produção dos chamados agrocombustíveis. Poucos anos antes, em 2005, o Brasil lançou o Programa Nacional de Agroenergia, na tentativa de assumir a liderança do mercado internacional de agrocombustíveis. Naquele contexto, o país já era o maior produtor mundial de etanol, a partir da cana de açúcar. Os chamados biocombustíveis apareciam como uma forma de produzir energia alternativa ao petróleo.
Houve, então, uma onda massiva de investimentos na produção de combustível baseada no cultivo e processamento industrial de vegetais como o milho, a soja, a palma azeiteira, a cana de açúcar, dentre outros. A problemática central desta promessa era a disputa deste mercado com a produção agrícola destinada à alimentação. Ou seja, com o grande estímulo à produção de combustíveis, a produção de alimentos ficaria secundarizada e os preços subiriam. Essa realidade se concretizou na crise de 2007/2008, quando houve grande aumento nos preços mundiais dos alimentos, em que o próprio Banco Mundial atribuiu ao desvio de grãos para produção de combustíveis.
Outra consequência grave foi a concentração ainda maior das terras, já que a produção de agrocombustíveis se conglomerou em produtos como a cana de açúcar e a soja, fortalecendo o agronegócio e suas estratégias de ocupação das terras. Nesse sentido, a produção de agrocombustíveis nada tem a ver com as questões ambientais, com a produção de combustível “limpo”, mas é somente uma questão econômica e de dominação das grandes empresas multinacionais. Era mais um projeto do agronegócio, com seu modelo predatório que visa apenas o lucro, desrespeita o meio ambiente, a diversidade, a cultura e não considera os prejuízos para a população e para o planeta.
O MCP foi criado em julho de 2008, como estratégia de fazer resistência a este processo. A partir desse pressuposto, assume como princípios a afirmação da autonomia do campesinato, por meio da construção da soberania alimentar popular e nacional, com o desafio de pensar a produção de alimentos saudáveis e diversificados, sem uso de agrotóxicos, respeitando a diversidade do ambiente natural, com os cultivos e os hábitos alimentares de cada região.
Breve descrição do projecto ou programa para que o dinheiro foi arrecadado
A ação de mobilização de recursos realizada pelo MCP tinha por objetivo garantir renda mínima para as famílias camponesas por meio do escoamento da sua produção e, ao mesmo tempo, levando alimentos saudáveis para a população em situação de vulnerabilidade social no meio urbano.
Resumo da ação de mobilização de recursos
A ação de mobilização de recursos realizada pelo MCP ocorreu entre os meses de maio e junho de 2020. Sete municípios foram alcançados pela ação de compra de alimentos das famílias camponesas e distribuição às famílias em situação de vulnerabilidade econômica.
Em cada um deles municípios, a coordenação do Movimento levantou a demanda das famílias que mais necessitavam dos alimentos, articulou a compra dos produtos diretamente com as famílias camponesas (frutas, verduras, legumes, quitandas, feijão, arroz, etc.), organizou as cestas e entregou às famílias na zona urbana, respeitando os cuidados necessários em relação à COVID-19.
Essa ação emergencial foi a primeira desenvolvida pelo grupo. As dificuldades com a pandemia e a pobreza do povo vêm aumentando e o MCP percebeu a importância dessa iniciativa tanto para as famílias camponesas como para as famílias que receberam os alimentos. Assim, buscou articular outros recursos para realizar ações semelhantes e recebeu apoio de algumas prefeituras e da Fundação Banco do Brasil. “Acreditamos que a missão dos agricultores é produzir alimentos para a sociedade e a fome precisa ser combatida continuamente. Não é possível ver as pessoas passando fome e não fazer nada”.