Incidência política exemplos:
Marcha Incomode

Organização Coletivo INCOMODE
Site https://www.facebook.com/ColetivoIncomode/
País Brasil
Tipo Rede formada por grupos culturais juvenis, movimentos sociais e lideranças comunitárias
Tema Direitos humanos

Resumo

O Coletivo Incomode realizou, em junho de 2019, diversas ações com objetivo de contribuir para enfrentar o genocídio, encarceramento em massa, extermínio e o feminicídio da juventude negra, em especial do território do Subúrbio Ferroviário de Salvador, realizadas em torno do “Dia Municipal Contra o Encarceramento da Juventude Negra” (20 de junho). Foram realizados processos de mobilização, sensibilização, formação, incidência e denúncia, através da II Marcha Incomode e também de Rodas de Diálogo, Oficinas, Saraus e Audiência Pública.

Para atingirem seus objetivos, foi realizada uma série de estratégias e atividades, como: mobilização de parceiros e partes interessadas para planejamento das ações; encontro de mobilização do Coletivo Incomode; reuniões preparatórias para realização das atividades; preparação de materiais de divulgação/mobilização; formação de grupos para estabelecer diálogo com o poder público e reuniões preparatórias para realização da audiência pública.

Durante a II Marcha Incomode, centenas de jovens caminharam do bairro do Lobato até o Parque São Bartolomeu, em 18/06/19, em protesto contra o genocídio e hiperencarceramento da juventude negra da Bahia. A Marcha aconteceu pelo segundo ano consecutivo, levando inúmeras famílias a reclamar os reincidentes casos de homicídios e desaparecimentos de jovens durante as operações policiais realizadas nas comunidades periféricas de Salvador. Na finalização da caminhada, os jovens se reuniram no Parque São Bartolomeu para realizar o Sarau Incomode, com apresentações artísticas dos grupos presentes, com poesia, dança e hip hop. Ressalte-se que uma das ações que impulsionaram a realização das Marchas Incomode foi a participação de jovens do Coletivo no “Curso de Incidência Política”, no ano de 2017, promovido pela Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE) em parceria com Terre des Hommes Schweiz e Terre des Hommes Suisse, no âmbito do Programa Virando o Jogo.

Como resultado da ação, mais de 700 pessoas envolvidas nas atividades, com Marcha, duas rodas de diálogo, seis oficinas e um sarau, com os temas do genocídio da juventude negra, hiperencarceramento e feminicídio; a juventude negra, organizações de juventude e as que desenvolvem trabalho com juventude, em especial do Subúrbio Ferroviário, mais mobilizada e qualificada para contribuir com denúncias e com políticas públicas nas questões pautadas; houve ainda incidência junto aos poderes públicos, com realização de Audiência Pública na Assembleia Legislativa do Estado da Bahia, com projeto em trâmite na Assembleia para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que vai investigar o extermínio de jovens negros na Bahia.

Análise de problemas

Segundo o Atlas da Violência 2019, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a Bahia é um dos 15 estados brasileiros que apresentam taxas de homicídio de jovens acima da média nacional. Enquanto o Brasil apresenta o índice de 69,9 assassinatos a cada 100 mil jovens, a Bahia registra a taxa de 119,8 homicídios, considerando o mesmo quadro amostral. O estudo também mostra que, em 2017, 75,5% das vítimas de homicídios no Brasil foram pessoas negras (soma de indivíduos pretos ou pardos, segundo classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE). De 2007 a 2017, a taxa de homicídio de negros/as cresceu 33,1% no País; a de brancos apresentou crescimento de apenas 3,3%. Jovens e negros são também maioria entre a população carcerária no Brasil, que em 2016 chegou a um total de 726,7 mil, segundo dados do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen). Mais da metade desse segmento era formado por jovens de 18 a 29 anos e 64% do total eram negros/as. Já segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil tem a quinta maior taxa de feminicídios entre 84 nações, com dados alarmantes de uma mulher morta a cada duas horas. Ainda segundo o Atlas da Violência 2019, 66% de todas as mulheres assassinadas no país são negras. Entre 2007 e 2017, a taxa de homicídio de mulheres não negras aumentou em 1,6%, enquanto a taxa de homicídio de negras cresceu 29,9%.
Esses fatos e dados evidenciam os problemas do genocídio, encarceramento em massa, extermínio e o feminicídio da população negra, em especial da juventude, revelando a desigualdade e segregação social e racial históricas no país que atingem a população negra, legado também da instituição da escravidão no Brasil.
Demonstram ainda a dificuldade que o Estado brasileiro tem de garantir a universalidade de suas políticas públicas. O precário acesso a direitos sociais básicos e como de educação, saúde, mobilidade urbana, trabalho, lazer, cultura, é um dos fatores que contribuem para o crescimento da violência, sobretudo a praticada pelo próprio Estado.
Demonstram também que o racismo institucional impõe, sistematicamente, a pobreza como padrão de urbanização das comunidades periféricas e não possibilita oportunidade de acesso igualitário às estruturas de poder e garantia do pleno exercício da cidadania. As desigualdades persistem mesmo com avanço de algumas legislações e de programas, como o Estatuto da Igualdade Racial (Lei 12.888/2010), a Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006) e a mais recente Lei 13.104/2015, que prevê o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio e o inclui no rol dos crimes hediondos.
Esse cenário é, ainda, mais preocupante com as recentes proposições legislativas no Brasil que facilitam o acesso e porte de armas, ou a criação de um “pacote anti-crime” que deve agravar a letalidade das polícias no país, impactando de modo mais direto populações mais vulnerabilizadas, como a população negra e de setores populares.

Análise de solução

Há muitos desafios e ações a serem realizadas para enfrentar os problemas do genocídio, encarceramento em massa, extermínio e o feminicídio da população e juventude negra. São necessárias, por exemplo, a elaboração de políticas públicas específicas e efetivação das existentes, como o cumprimento de legislações como o Estatuto da Igualdade Racial, Estatuto da Criança e do Adolescente; ampliação do debate sobre a política de combate a drogas e de segurança pública no país, que criminaliza a população negra, em especial a juventude; ações de mobilização e sensibilização da juventude; monitoramento e levantamento das ações de letalidade que atingem a população negra; aprimoramento dos mecanismos de denúncia e investigação; visibilização de dados sobre genocídio da população e encarceramento, e também estímulo e valorização de ações socioculturais da juventude negra; manutenção e ampliação de ações e políticas reparatórias de equidade e igualdade de oportunidades.
A ação desenvolvida pelo Coletivo Incomode se dirigiu principalmente a atividades de mobilização e sensibilização da juventude, de denúncia e de visibilidade, e de monitoramento de ações de letalidade, com realização de rodas de diálogo, oficinas, marchas e saraus em Salvador/Bahia, envolvendo em especial organizações do Subúrbio Ferroviário de Salvador, bem como incidência no poder legislativo com audiências públicas para criação de comissão parlamentar de investigação de crimes violentos contra a juventude.
Leia mais Voltar à lista de exemplos